[..] graves agressões a direitos constitucionais por parte do braço armado e jurídico do Estado, -a Polícia Federal, juizes e procuradores. São desrespeitos sérios à Carta, mas os quais, por atingirem pessoas de má reputação, tudo passa como se o zelo para com os ritos legais demonstrado pelo presidente do Supremo fosse solerte manobra destinada a proteger bandidos.
[..]. Não se discute a folha corrida dos personagens, mas os riscos que os direitos individuais correm quando inquéritos tramitam de forma sigilosa por tempo excessivo, prisões são decretadas sem parcimônia e a máquina de investigação da Polícia Federal produz um relatório, como o do delegado Protógenes Queiroz, em que, num estilo messiânico, de luta do "bem" contra o "mal", até o trabalho da imprensa é tachado de criminoso.
[..]. desconhecimento do funcionamento do mercado financeiro. Ele chega a dizer que há indícios de que Nahas teria acesso privilegiado à definição dos juros pelo Fed, o BC americano, sem se dar conta de que tal coisa, se verdadeira, entraria na lista dos grandes escândalos internacionais.
Ilustra bem o momento perigoso para as liberdades, a afirmação do ministro da Justiça de que acha muito difícil Daniel Dantas provar a inocência. Sintomaticamente, o ministro inverteu a lógica, pois é o Estado que precisa primeiro provar a culpa do banqueiro.
[..]. A aliança de um delegado que se considera no cumprimento de uma missão divina com um Ministério Público e um segmento da Justiça sequiosos por atingir fins independentemente dos meios coloca a sociedade em sobressalto.
E com grande possibilidade de criminosos, se houver, não serem devidamente punidos, beneficiados por erros técnicos que o açodamento e a arrogância costumam causar nesses processos.
[..].
A espessa sombra de um estado policial cai sobre a sociedade. [..].
(do editorial "Estado policial" de O Globo, 15-07-08)