quinta-feira, 28 de abril de 2011
Prós e contras do estádio do Flamengo
Prós e contras o estádio do Flamengo
Antonio Augusto Dunshee de Abranches
Um estádio com 30 mil lugares é muito pequeno para abrigar a imensa torcida do Flamengo, assim diria o Conselheiro Acácio. Sobretudo sabendo que o Maracanã está no final de uma grande reforma e o João Havelange deve ficar pronto em julho. Por isso, o anúncio da construção desse diminuto estádio não esconde tratar-se de um artifício para encobrir o verdadeiro intuito dos grupos financiadores, ou seja, pagar barato para fazer e explorar um shopping center no super valorizado terreno de 70 mil metros quadrados às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas. O engodo é visível. O estádio (há quem diga que serão apenas 25 mil) é o "torrão de açúcar" para sensibilizar os sócios a aprovarem um projeto que vai criar mais problemas que soluções, o principal dos quais será a necessidade de cobrar altos preços pelos ingressos, transformando em elitista o clube mais popular do país.
Portanto, há necessidade de um amplo debate antes de levar adiante um projeto dessa grandeza, com os riscos naturais de um movimento patrimonial que pode se tornar irreversível no futuro. O Flamengo precisa recuperar o interesse e o voto dos seus 4 mil sócios-proprietários, que andam desaparecidos, e com eles formatar um modelo de gestão do clube à altura do empreendimento anunciado. É essencial esclarecer a todos que a construção de benfeitorias no terreno da Gávea, com prioridade comercial, pode resultar na perda da nossa posse do imóvel, do qual temos apenas o domínio útil, um aforamento com destinação específica para atividades esportivas. Há um problema jurídico relevante a enfrentar, mesmo que o Estado do Rio de Janeiro, o poder concedente, tenha autorizado a construção para dar apoio à atividade esportiva. Quem será o dono do shopping? Quem vai explorar o shopping se houver litígio com o financiador?
Tais questionamentos são mais do que pertinentes, pois o Flamengo tem uma lamentável história em todos os empreendimentos não esportivos em que se envolveu. E os que estão hoje à frente do projeto shopping são os mesmos que no passado não tiveram a habilidade necessária à proteção do patrimônio do clube. Nos anos 50, ganhamos de graça o terreno e um prédio na Avenida Rui Barbosa, com 144 apartamentos, praticamente doados pelo governo federal, através de um extinto instituto de pensão. Durante alguns tempo, nos proporcionou boa renda mensal de aluguéis residenciais, mas logo passou a abrigar parentes de dirigentes, atletas de esportes amadores e outros apaniguados, o que levou o prédio a estar hoje sem conservação em quase ruína. Em 1977, usamos o terreno da antiga sede, na Praia do Flamengo, 66, berço do Flamengo, num ousado projeto, chamado pomposamente de "substituição de patrimônio" e fizemos uma parceria com importante construtora. O prédio ficou pronto, as muitas salas que nos eram devidas foram entregues no prazo, mas em menos de 5 anos estavam todas vendidas para pagar dívidas do clube, sobretudo salários atrasados; e não temos nem mais a placa histórica que indicava onde nasceu o clube mais querido do Brasil. No meio dos anos 80, resolvemos usar uma parte nobre do terreno da Gávea para construir uma sede social, com a qual os sócios sonhavam há anos. Mas, logo no começo, as fundações foram cravadas ao contrário, os fundos para a frente e a frente para os fundos, erro enorme que se transformou em motivo de chacota pelos nossos adversários. E, até hoje, passados cerca de 20 anos, só metade da sede está em uso, porque o Flamengo não teve capacidade para solucionar um problema que dá a outra metade à construtora. Em 2000, tivemos a parceria com a ISL, contrato que nos renderia 80 milhões de dólares, mas o Flamengo não teve habilidade para perceber que a empresa era um "tamborete" suíço usado por pessoas inescrupulosas que usaram clubes e entidades para arrancar dinheiro de fundos norte-americanos. Dos 60 milhões de dólares que efetivamente entraram nos cofres do Flamengo só temos notícia para lamentar o mau uso.
Com tantos precedentes negativos, é forçoso convir que o projeto do shopping-estádio não pode ser discutido apenas pelos 1200 sócios que compareceram à última eleição. O erro do passado, que introduziu eleição direta no clube, afastou a maioria dos 4 mil sócios-proprietários e precisa ser corrigido Afinal, o clube vem sendo gerido pela vontade de pais e mães que levam seus filhos para nadar e fazer ginástica, muitos dos quais sequer torcem pelo Flamengo. E pela voz e voto de chefes de torcida. O resultado disso tem sido a repetição de salários atrasados, enormes dívidas previdenciárias e fiscais e um passivo trabalhista de tal ordem que inviabilizaria qualquer empresa séria.
Um estádio de 30 mil lugares vai apequenar o Flamengo, um clube de 150 milhões de torcedores. Urge que a maioria dos sócios-proprietários apareça para não permitir a provável perda do último patrimônio que nos resta. O terreno da Gávea é sagrado e não deve ter outra utilização que não seja transformar-se no maior centro de treinamento das Américas, de onde surgirão os craques que necessitamos para formar outros grandes times.
Antonio Augusto Dunshee de Abranches é ex-presidente e grande benemérito do Flamengo
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